Capa do livro BRASÍLIA PALACE foto de Ruy Teixeira

BRASÍLIA PALACE

Luis Esnal (org.)

O hotel Brasília Palace, um marco do modernismo na capital brasileira, é o assunto deste livro inteiramente dedicado às suas histórias e arquitetura. Ilustrado por ensaio fotográfico de Ruy Teixeira e rica seleção de imagens de acervo.

O projeto gráfico e a diagramação é de Elisa von Randow.

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Agradecemos a todos aqueles que gentilmente cederam os direitos sobre as obras no livro publicadas. 

Créditos acervos e fotógrafos presentes no livro: Acervo Brasília Palace Hotel, Acervo Fundação Oscar Niemeyer, Arquivo Correio Braziliense (D.A Press - Diários Associados), Arquivo Público do Distrito Federal, Evandro Teixeira, Marcel Gautherot (Acervo Instituto Moreira Salles), Mário Fontenelle (Arquivo Público do Distrito Federal), Peter Scheier (Acervo Instituto Moreira Salles), Revista Brasília (Arquivo Público do Distrito Federal), Ruy Teixeira, Thomaz Farkas (Acervo Instituto Moreira Salles).

Agradecemos também à rede Plaza Brasília Hotéis por acolher a equipe que fez este livro.

Este livro usufruiu dos mecanismos de incentivo fiscal do Pronac, instituído pela Lei Rouanet (Lei 8.313 de 1991). 

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O primeiro design hotel por André Aranha Correa do Lago

O Brasília Palace deveria ser reconhecido como um marco na arquitetura de hotéis em todo o mundo. Sua novidade e importância, no entanto, foram diluídas no contexto da inauguração de uma capital inteiramente nova em que o hotel era apenas um dos muitos elementos que faziam parte de um projeto gigantesco. O plano urbanístico de Lucio Costa – conhecido como Plano Piloto – não podia dar a um hotel uma localização de destaque: não era uma cidade de lazer, mas uma nova capital, e como tal tinha de valorizar os edifícios que simbolizariam a nação: os palácios presidenciais (1), o Congresso Nacional, a catedral etc.

A arquitetura de Niemeyer, por outro lado, cujas formas sempre foram altamente simbólicas, aliavam originalidade com hierarquia: dependendo da relevância do projeto, a forma era mais ousada. Novamente, palácios, teatro ou catedral tinham de chamar mais atenção por sua dimensão pública. Habitação privada (edifícios residenciais nas superquadras), edifícios de escritórios (ministérios) ou comerciais (hotéis, conjuntos comerciais) não precisavam causar surpresa ou espanto, como gostava de dizer Niemeyer. O projeto do Brasília Palace, portanto, nunca buscou ser chamativo: tinha de ser moderno e inovador, localizado em um terreno prestigioso, mas fora dos eixos essenciais do Plano Piloto.

Na realidade, o Brasília Palace era muito mais do que isso: era espetacular para a sua época em diversas dimensões. Em 1957, a ideia de um hotel totalmente moderno destinado a altas autoridades não era usual, pois o modernismo não era associado a luxo e monumentalidade. Não podemos esquecer que o Palácio da Alvorada, construído no mesmo ano, foi o primeiro palácio modernista do mundo. No século 20, até aquele momento, os palácios eram ou antigos, ou pastiches de antigos, ou art déco, ou fascistas. Mas ainda não havia sido construída nenhuma residência de chefe de Estado ou de governo moderna (2). Havia uma quase unanimidade mundial de que os palácios “'representativos” deviam ser “clássicos”. Os hotéis de qualidade idem, pois procuravam imitar o padrão dos palácios (por isso tantos têm o nome Palace...). Hotéis modernos nos anos 1950 eram associados à simplicidade e considerados adequados para aeroportos ou outros contextos que não envolvessem “prestígio”. Para os brasileiros da época, hotel de luxo digno de uma capital era o Copacabana Palace.

Mesmo assim, havia alguns precedentes hoteleiros modernistas no nosso país: o Park Hotel São Clemente em Friburgo (1940), de Lucio Costa, o Grande Hotel de Ouro Preto (1942) e o Hotel Tijuco em Diamantina (1951), ambos de Oscar Niemeyer, e o Hotel da Bahia, em Salvador (1952), de Paulo Antunes Ribeiro e Diógenes Rebouças. Este último representava um hotel de grandes dimensões, particularmente significativo por se inserir em uma grande cidade com tradição histórica. Os demais, embora muito importantes e interessantes, eram projetos de cunho mais rústico, contextualista e de dimensões reduzidas. Nenhum desses, no entanto, tinha a coerência de uma obra totalmente modernista na arquitetura, nos interiores e nas obras de arte.

O século 20 conheceu bastante cedo um hotel importante que tinha, além do prédio, toda a mobília e os equipamentos (da porcelana à iluminação) projetados por um grande arquiteto: o Hotel Imperial de Tóquio, de Frank Lloyd Wright, inaugurado em 1923 (3). Esse projeto “completo” teve seguidores, mas somente depois da Segunda Guerra (4). No entanto, a tendência internacional é considerar que o primeiro design hotel foi o Royal Copenhagen, lindo projeto de Arne Jacobsen (arquitetura e mobiliário) inaugurado em 1960(5), ou ainda o Hotel Okura, em Tóquio, de 1962, obra de Yoshiro Tanigushi (6).

O Brasília Palace não foi um “projeto completo” como o de Jacobsen ou de Tanigushi, na medida em que Niemeyer não projetou a mobília especificamente para o hotel. Acredito que o Brasília Palace, no entanto, inaugurado três anos antes do Royal Copenhagen, pode ser reconhecido e divulgado como o primeiro design hotel, pois representa um conjunto modernista de grande qualidade com expressiva coerência entre arquitetura, arte e mobiliário. Para isso, deve ser continuado o esforço de fortalecimento das suas características originais, reconstituindo, por exemplo, do mobiliário dos salões. Não devemos creditar sua importância apenas à dimensão folclórica de ter sido o primeiro hotel de Brasília. Precisamos todos contribuir para que seja, cada vez mais, reconhecido como um ícone mundial.

(1). Alvorada e Planalto.

(2). A Alemanha construiria, alguns anos depois, uma linda residência modernista para o chefe de governo, em Bonn.

(3). No dia e no momento do Grande Terremoto de Tóquio... Sobreviveu até 1967, quando foi derrubado. Apenas o bar do novo Hotel Imperial guarda o desenho original de Frank Lloyd Wright.

(4). O primeiro pode ter sido o Royal em Nápoles, de Gio Ponti, de 1952, mas impressionava menos por sua arquitetura do que por sua mobília, ao contrário da obra-prima do mesmo Gio Ponti, de 1962, o Hotel Parco dei Principe, em Sorrento, perfeitamente preservado até hoje.

(5). Somente um de seus quartos mantém até hoje a mobília original.

(6). Perfeitamente conservado, mas cuja reforma polêmica está programada para este ano.

Sobre arquitetura

O Brasília Palace Hotel – a primeira construção de Brasília – foi pensado como parte de um conjunto urbanístico para abrigar os técnicos e os visitantes da capital em formação, portanto concebido simultaneamente e em proximidade ao Palácio da Alvorada – a residência oficial do presidente da República – e sua Capela, todos deliberadamente localizados fora do Plano Piloto e na extremidade do que viria a ser a futura península do lago artificial também projetado.

Embora o concreto armado fosse o principal recurso estrutural empregado por Niemeyer em seus projetos, para o edifício desse hotel edificado em caráter de urgência foi escolhido o emprego de perfis estruturais metálicos revestidos de concreto e outros materiais de acabamento como o alumínio, o mármore e o lambril. A realização desse esquema construtivo no Brasília Palace teve a dupla função de ser um protótipo da solução que seria aplicada nos edifícios dos ministérios e, também, de atender a uma determinação de Juscelino Kubitschek para a utilização de sistemas construtivos que promovessem a recém-criada indústria siderúrgica brasileira. Para a construção do edifício foram usadas 905 toneladas do aço.

Niemeyer organizou o programa de usos do Brasília Palace em três volumes principais: a caixa suspensa por pilares que abriga os quartos; a ala semienterrada em “T” que abriga os espaços de convívio e parte dos serviços; e uma caixa enterrada e afastada que abriga serviços e espaços técnicos.

O percurso percorrido pelo hóspede no edifício foi o ponto de partida do arquiteto para a articulação entre os volumes projetados. Ao propor a chegada ao hotel através de um acesso semienterrado, o arquiteto conduz o hóspede discreta e diretamente do saguão de entrada ao andar de seu quarto, proporcionando independência em relação ao hóspede já instalado e descansado que usufrui dos salões de estar, do restaurante, do bar e piscina localizados no andar térreo.

Os três pisos destinados aos quartos foram implantados na precisa orientação norte-sul, assim os quartos recebem a luz da manhã e têm a mesma vista para e orientação do Palácio da Alvorada. Na fachada poente de acesso e circulação dos hóspedes, foi empregado o elemento vazado de copos de vidro.

A reconstrução do hotel, destruído pelo incêndio de 1978, recuou os caixilhos metálicos originais ao longo da fachada leste e substituiu-os por caixilhos de madeira, criando varandas em todos os quartos. Na fachada oeste foram instalados quebra-sóis verticais articulados. O acesso semienterrado tão singular desse projeto permaneceu, mas é percorrido através de uma rampa. Um elemento novo, bastante característico da obra de Niemeyer, foi a adição de duas escadas de incêndio externas na fachada oeste.

Fatos rápidos sobre o hotel

Nome original: Hotel de Turismo Brasília
Local: Brasília – DF
Área Construída: 8.400 m²
Arquitetura: Oscar Niemeyer
Murais: Athos Bulcão e Paulo Werneck (este último destruído em 1978)
Início do Projeto: agosto de 1956
Início da Construção: setembro de 1957
Data da Inauguração: junho de 1958
Data da Reconstrução: 1997-2006
Data da Reinauguração: 2006